quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Resenha: Tão Mais Bonita


Sob os paralelepípedos, a praia.
Tão mais bonita... deveria ser um titulo que remetesse a algo leve, uma estória de amor ou de superação. Porém, remete a algo mais intenso, mais cruel. Precisamos falar de um tipo de violência enraizado em muitas culturas, que possui uma vitima em potencial: Mulher.

Colocar mulher no singular como se fosse uma única vitima, é muito vago, levando em conta que somos praticamente a maior parte da população mundial. Como a autora declara já no inicio do livro, quando se é mulher, características normais, podendo ser loira ou morena, entre 1,60 e 1,70 metros, garçonete ou recepcionista, talvez com dois empregos... Fica muito fácil simplesmente desaparecer. E segundo as estatísticas, sumir pelas mãos de alguém do ciclo de convivência.


Vi várias criticas negativas de Tão mais bonita, e na verdade só consegui chegar à conclusão de que: muitos leitores não compreenderam a sutil mensagem de violência contida em suas páginas. Muitos nem sequer entenderam o que aconteceu com Wendy.

Wendy, foi sequestrada, foi trancada em um sótão, teve seu corpo usado por meses, até ser literalmente sugada sua existência e então, descartada como lixo, um peso morto...
Até que ponto é descartável a vida de uma mulher? Até que ponto é esperada? Até que ponto não é surpreendente? Até que ponto é normal? Quantas vezes por semana, mês, ano isso acontece?

Toda a história acontece em Headen, cidadezinha típica no interior de Nova York, todos se conhecem, tem raízes na cidade e onde pessoas de fora são consideradas forasteiras indesejáveis, logo quando Wendy desapareceu tiveram a certeza que fora um desses o culpado. Não poderia ser alguém de Headen.


Flynn, jornalista, se muda para Headen querendo fazer a diferença e logo descobre que a cidade que parece um sonho na verdade é um pesadelo, com pessoas alienadas e com uma fábrica de laticínio que polui a cidade. Flynn se envolve com o desaparecimento de Wendy, e quer mais do que tudo encontrar a garota, mas ninguém colabora. Quando encontram o corpo de Wendy, Flynn escreve uma matéria que sacode a cidade. Choveu criticas, mas balançou Alice.

Alice era filha dos Piper, médicos que largaram a profissão e se mudaram para Headen para criar a filha com mais qualidade, sem apegos e com tranquilidade. Alice, cresceu questionadora e revolucionária, com a visão de sustentabilidade dos pais. Aos 15 anos, questionava essa visão também. E foi a maneira como Alice enxergava as coisas, que a reportagem de Flynn sobre Wendy e desaparecimento de mulheres mudou.


Não seria muito racional aceitar que moro dentro de uma coisa feita de carne que alguém captura, esconde e depois entra na fila para estuprar.

Alice observa, junta as peças e entende o que aconteceu com Wendy. Não podendo provar e decidida a fazer a diferença, ela é a autora de um atentado na escola onde assassina os culpados do abuso de Wendy. Ela vê o mundo ao inverso, vê a realidade nua, sem as máscara das convenções e falsidades sociais. Sem a visão utópica que os pais tinham de custo beneficio.

Sob os paralelepípedos, os campos, o estacionamento, os bosques, jaz outra coisa.

Tão mais bonita, é confuso, não é narrado de forma linear. Toda a apresentação que a autora faz de Headen e as provas circunstanciais que apresenta após os crimes na perspectiva de Flynn, é proposital. É para criar o cenário, de que Headen pode ser qualquer lugar que eu ou você conhecemos. Como eu disse, é pra apresentar de forma sutil, uma realidade desumana. Portanto, tem que prestar atenção as datas e fatos apresentados no livro. 


Para entender, temos que ter sensibilidade, saber que perante a sociedade a mulher é sim uma vitima em potencial, simplesmente porque nasceu mulher. Só o leitor sabe os fatos completos, conhece toda a verdade sobre Wendy, só basta ter essa sensibilidade de entende-la.





Nota:
5/5

Ficha Técnica:
Título: Tão mais bonita
Título Original: So Much Pretty
Autor(a): Cara Hoffman
Editora: Intrínseca
Páginas: 272
Sinopse: Haeden é uma pequena cidade no norte do estado de Nova York que tem como principal empregadora uma fábrica de laticínios. Seus habitantes são pessoas que fincaram raízes por lá e nunca mais foram embora – pessoas que não gostam muito de forasteiros. É o caso da família Piper, que fugiu da confusão da cidade grande com sua precoce e encantadora filha, Alice, procurando um novo começo, e de Wendy White, uma mulher doce e caseira, que desapareceu misteriosamente.Recém-chegada a Haeden, a repórter Stacy Flynn decide reconstituir a vida de Wendy, que fora assassinada, organizando todos os fragmentos que encontra na tentativa de solucionar o caso. Ela escreve um apaixonado artigo para o jornal local, que desperta em Alice o desejo de também investigar o crime. Enquanto Alice e Flynn, separadamente, observam as pessoas ao redor em busca do assassino, o destino de Alice é entrelaçado para sempre ao de Wendy, quando um segundo crime abala as estruturas da cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário